Cerco fixo flutuante e arrasto de praia: sazonalidade no Pântano do Sul

Apresentação
A praia do Pântano do Sul localiza-se no extremo sul da ilha de Santa Catarina, onde reside – e resiste – uma das maiores comunidades pesqueiras de Floripa, onde em média 200 camaradas (considerando os registrados oficialmente pelo Estado como pescadores e os registrados oficialmente pelos patrões de canoa nos seus caderninhos) trabalham com pesca artesanal. Nesta praia, as técnicas de pesca ancoram-se naquelas praticadas dentro da enseada, sendo as duas principais a técnica de cerco de arrasto de praia e o cerco fixo flutuante e nas pescas praticadas embarcadas, ou seja, aquelas em que uma tripulação de pescadores precisa sair de barco para pescar em alto mar, normalmente em pesqueiros já conhecidos. Ao longo do ano todo são pescas com redes de arrasto, espera, emalhe, zangarilhos, caniço, tarrafa e arpão no costão, além da pesca de arrasto na praia e a pesca com o cerco fixo flutuante, demarcando a sazonalidade e o calendário de pesca da comunidade. Esta exposição conta com fotografias das safras de pesca de 2021 e 2022.
Foto 1 – O arrasto de praia no Pântano para capturar tainhas acontece em maio e junho, ela se inicia com o papel do vigia vendo a tainha – peixe esperto – entrar na praia para, então, avisar o momento certo de colocar a canoa na água para cercar o peixe.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 2 – A pesca é feita com redes que podem passar de 500 braças, carregadas pelas canoas bordadas de um pau só, movidas a remo. Na praia, os camaradas seguram um dos lados do cabo da rede enquanto ela é lançada no mar e depois outro grupo segura o outro lado para que ela possa ser arrastada para a praia, se tudo der certo, com as tainhas no meio. Esta pesca mobiliza de uma forma bem específica toda a comunidade que fica atenta ao início de um arrasto.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 3 – Durante a temporada do arrasto de praia da tainha, a praia passa por um processo de balização, ou seja, a enseada é demarcada pelos próprios pescadores com bandeiras que ficam a uma milha da praia e fazem que naquele “maritório” apenas a técnica possa ser praticada. Além de outras pescas, atividades como surfe também ficam proibidas. Dentre as técnicas que não podem ser realizadas na época da tainha está o cerco fixo flutuante, que no resto do ano todo fica atado ao costão do Morro do Pântano. Neste período, as redes do cerco fixo flutuante são retiradas, lavadas e secadas ao sol, além de guardadas pelos companheiros Chico e Amarelo.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 4 – O patrão Didi da parelha Mariposa, canoa centenária,
carregando suas tainhas após um lanço bem sucedido.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 5 – Patrão Barrinha e a canoa Terezinha. Após a temporada da tainha, Barrinha troca a canoa pela bateira e instala a armadilha de cerco fixo flutuante no costão.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 6 – Os camaradas possuem um “grito de guerra” um uhuuuu que funciona como aviso para os pescadores que estão em outras atividades do dia a dia, para ajudarem a empurrar e colocar a canoa dentro do mar, para guardar a rede imensa depois da finalização do arrasto (trabalho bem dispendioso e demorado) e na contagem dos peixes capturados, para dividi-los entre os camaradas presentes em forma de quinhão.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 7 – A atividade diária da despesca com o cerco fixo flutuante consiste na ida até a rede em bateiras a motor, com três ou quatro pessoas, que partem da praia em direção às bóias, normalmente em três horários ao longo do dia, para verificar se algum peixe fora capturado e então recolhê-los. Os peixes, em função das correntes ou atraídos por alguma presa, entram pela boca do cerco, que se encontra embaixo d’água e, por um corredor que forma o princípio de um caracol, nadam até entrar nessa espécie de tanque ou piscina. Eles permanecem vivos, capturados na armadilha e são posteriormente selecionados pelos pescadores, que puxando a rede, a levantam, de forma a encurralar os peixes que estão vivos dentro até a parte chamada ensacador para selecioná-los – com ou sem o auxílio de ferramentas – e libertar os restantes em mar aberto.
Foto: Beatriz Demboski Búrigo.

Foto 8 – O regime de pesca no Pântano do Sul é o ano inteiro, além da temporada da tainha, o calendário também é composto pelas pescas da anchova e da corvina, principalmente para os pescadores embarcados, como seu Ailson.
Foto: Maria Luiza Scheren.
Foto 9 e 10 – Nas fotos panorâmicas, tomei o lugar da percepção engajada dos pescadores em cada uma das técnicas de pesca observadas. O cerco de praia fotografei da praia nas dunas, do meio da enseada, de onde os vigias da tainha se posicionam. Sobretudo nesta pesca, é a perspectiva engajada do vigia que coordena a ação. Por mais que atuem significativamente o patrão e os outros camaradas dentro da canoa, é o vigia quem indica: qual canoa colocar no mar, onde entrar no mar, quando lançar a rede no mar, se coloca mais uma canoa e lança outra rede. Já a foto do cerco fixo flutuante tirei do barco, pois toda ação desta pesca se dá no mar, na perspectiva engajada de quem está na bateira. Na primeira pesca, das dunas, eu fiquei de frente para a enseada do Pântano do Sul, onde entram os peixes para serem cercados, enquanto, na segunda pesca,eu fiquei de frente para o costão, de dentro do barco, pois ele faz parte da armadilha.
Fotos: Beatriz Demboski Búrigo.





